Lula quer garantia de emprego em troca de empréstimo
Presidente promete para daqui a 15 dias o plano de habitação, que prevê a construção de 1 milhão de casas
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, na reunião do Conselho Político, que exigirá contrapartida do setor privado nos financiamentos concedidos pelos bancos oficiais, para evitar demissões. Segundo relato do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), Lula disse que é preciso ter um compromisso dos tomadores de financiamento, especialmente para capital de giro, de não demitirem no prazo de pelo menos seis meses.
O presidente também prometeu para daqui a 15 dias o plano de habitação, que prevê a construção de 1 milhão de casas no próximos dois anos. "Tem de ter um compromisso de estabilidade do emprego", disse Lula, segundo Albuquerque.
"Imagina se o Sandro Mabel (deputado do PR de Goiás) tomar dinheiro do BNDES ou do Banco do Brasil e uma semana depois demitir 100 funcionários", disse o presidente, referindo-se a um dos parlamentares presentes. Segundo o presidente, esse compromisso não precisa ser cobrado no caso de financiamentos para expansão e investimentos.
Indicadores
O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), afirmou que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, destacou, na reunião do conselho político, que todos os indicadores da economia brasileira apresentam sinais de melhora e que ele descartou o risco de uma recessão técnica no País.
O parlamentar informou que, no encontro, o presidente Lula disse que a ordem é aproveitar a crise para melhorar a posição relativa do Brasil no mundo. Entre os indicadores citados por Mantega, segundo Fontana, estão os que mostram a recuperação do crédito, o nível do risco país mais baixo do que o de outros emergentes e a maior estabilidade do real em relação a outras moedas, além do aumento na produção e venda de automóveis em janeiro e da melhora da confiança dos consumidores no mês passado.
Mantega citou ainda a estimativa de alta de 5,7% na produção industrial de janeiro. Fontana afirmou ainda que a tônica do discurso de Mantega foi que o Brasil entrou nessa crise melhor preparado, já que o País estava em aceleração, já refletindo as ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Segundo o parlamentar, o ministro destacou que ao contrário dos EUA, Japão e Europa - que terão queda do PIB neste ano - o Brasil terá crescimento. Segundo Fontana, foram citados números que variam de 2% a 4% para a previsão de expansão da economia brasileira. "Eu, particularmente, acredito em um crescimento de 2,5% a 3%."
O líder afirmou que o governo tem um discurso de otimismo com responsabilidade porque não nega a gravidade da crise, mas tenta transmitir otimismo diante da melhor situação do País. O parlamentar ponderou que se o discurso fosse em outra direção poderia amplificar o efeito da crise no Brasil.
Fontana defendeu que o governo não prorrogue a redução de Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis. Segundo ele, a medida foi tomada para enfrentar a crise que atingiu duramente o setor automotivo e o anúncio da extensão dela poderia prejudicar o movimento dos consumidores para comprar os veículos.
A discussão sobre a prorrogação da vigência do IPI reduzido é evitada pela equipe econômica mesmo nos bastidores. Uma fonte do governo disse que, se tivesse que apostar, seria pela prorrogação do benefício.
Habitação
Lula disse também, durante a reunião do Conselho, que apresentará em 15 dias o plano de habitação que prevê a construção de 1 milhão de casas, até o final de 2010. O presidente afirmou que é preciso "costurar" o plano, especialmente com os bancos privados e que o ministro da Fazenda já está tendo conversas com representantes do setor.
Na avaliação do presidente, segundo relato do deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), o governo só conseguirá atingir a meta de construir 1 milhão de casas em 2 anos, se conseguir que todos os setores, especialmente de financiamentos, atuem. "Só o poder público e os bancos públicos não vão resolver", disse o presidente. Ainda na reunião com o Colégio de Líderes, Lula relatou que já há algum tempo vem atuando para reduzir as taxas de juros e o spread bancário do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.
Santo
Lula disse que tem rezado muito, não apenas para o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mas para a China. Na conversa com os líderes dos partidos que integram a base aliada, Lula lembrou que o país asiático depende, sobretudo, das exportações para países que estão em crise, como os Estados Unidos. "Eu rezo e já estou virando um santo para que a China encontre um caminho e o Obama vá bem na condução dos Estados Unidos. Agora, aqui (no Brasil) estamos fazendo a nossa parte."
Lula, ainda segundo relato de participantes da reunião, criticou a atitude do presidente norte-americano de dar dinheiro aos bancos em dificuldade. Para Lula, Obama deveria estatizar esses bancos.