Paes firme no Rio e Lula voa para 2014 (Pedro do Coutto - Tribuna da Imprensa)
Na semana passada, as últimas pesquisas do Ibope e Datafolha divulgadas nos jornais com poucos dias de diferença uma da outra revelaram que Eduardo Paes consolidou-se para prefeito do Rio nas urnas de outubro deste ano, enquanto o presidente Lula decolou vôo para retornar ao Palácio do Planalto na sucessão de 2014.
Vamos por partes. O levantamento do Ibope sobre as intenções de voto para a prefeitura carioca, publicado sábado, confirmou plenamente o realizado pelo Datafolha: o candidato do PMDB subiu 8 escalas em relação a quinze dias atrás, atingindo 27 por cento. Marcelo Crivela estacionou em segundo lugar, com 23, os demais ficaram muito distantes. Segundo turno entre Paes e Crivela, com ampla vantagem para o primeiro. O quadro parece irreversível, já que a pesquisa foi feita no momento em que o horário de propaganda na televisão completava três semanas.
Luís Inácio da Silva deu a partida para suceder seu sucessor ou sucessora nas eleições de 2014, com base na pesquisa do Datafolha que apontou um êxito extraordinário a seu favor: 64 por cento da opinião pública nacional consideram seu governo entre ótimo e bom. É regular para 28 por cento, o que a meu ver significa neutralidade, e ruim e péssimo somente para 8 por cento. Um resultado fantástico, que torna inevitável sua sexta candidatura à presidência da República.
Porém - na vida há sempre um porém - depende do Congresso aprovar em 2009 emenda constitucional acabando com a reeleição. Com isso, abre-se uma nova perspectiva para o quadro político do País. Com o prestígio em alta assim, agora refletido em todas as classes sociais, e não somente nos grupos de renda menor, a futura candidatura de Lula é inevitável.
No Rio, o panorama apresenta sinais de estar definido. O desempenho de Eduardo Paes na TV está melhor do que o dos demais candidatos e candidatas. Marcelo Crivela situa-se no patamar de sempre, entre 21 e 23 pontos, patamar que alcançou nas eleições majoritárias de 2002 para o Senado, de 2004 para a prefeitura, de 2006 para governador do Estado.
Por que sustento que o desempenho de Paes está melhor? Não em função das promessas que faz, pois isso todos fazem e elas são impossíveis de cumprir num sistema de desemprego alto, salários baixos, favelização crescente, comércio de drogas, sustentado pelo crime institucionalizado e pela violência que atormenta e intimida toda sociedade. Está melhor porque o candidato, sozinho ou em companhia de Sérgio Cabral, dirige-se diretamente ao eleitorado. Isso é fundamental.
Numa de suas obras, "A idéia do cinema", o jornalista, poeta e ensaísta José Lino Grunewald considerou a novela "Gabriela", de autoria de Jorge Amado, dirigida na rede Globo por Walter Avancini, o melhor filme brasileiro de todos os tempos. Traçou um paralelismo entre o cinema e a televisão, encontrando mais pontos de convergência do que divergência. Relativamente aos pontos de divergência, citou um teórico americano de comunicação, cujo nome não me lembro agora (não é MacLuhan), que assinalava um aspecto interessante.
Dizia o teórico, no texto de Grunewald: o cinema, mesmo que haja apenas um espectador na sala, é um espetáculo produzido para a multidão. Na TV, existe sempre uma multidão no outro lado da tela, mas quem aparece está falando com você. Perfeito. Tanto assim que o apresentador olha diretamente a lente da câmera. Sua expressão chega aos nossos olhos. É exatamente isso o que Eduardo Paes está fazendo. Suas mensagens, reais ou não, possíveis ou não, estão sendo remetidas personalizadamente. Está se saindo bem. As peças visuais dos demais candidatos os distanciam dos eleitores.
Não é a mesma coisa. Não imprime. Não convence. Sob este ângulo, vale acentuar que a persuasão alcançada por Paes não é conseqüência só da máquina do governo do Estado. Em boa parte é pessoal. Tanto assim que foi muito fraca a avaliação do governador Sergio Cabral apresentada pelo Ibope. Três por cento o consideraram ótimo, 29 bom. Ruim e péssimo 22 por cento. Regular - que nada significa - para 46 por cento. Mas esta é outra questão. Como escrevi recentemente, com base no Datafolha, Paes está a um passo do Palácio da Cidade. Agora, o Ibope confirma.
Vamos falar de Lula 2014 e da excepcional popularidade que apresenta, objeto de uma conversa minha com o conselheiro aposentado do TCE-RJ, meu amigo Humberto Braga. Popularidade que vem especialmente dos seguintes pontos concretos, já que abstrações não podem levar ninguém à escala que o presidente alcançou: os salários dos empregados particulares e das estatais, que perderam para a inflação do IBGE, de 95 a 2002, passaram a empatar. Um avanço concreto, sem dúvida, dos maiores. O desemprego recuou pouco, mas recuou.
A imagem pessoal de Lula é muito boa. Não ameaça, não tensiona, não passa pessimismo. O crédito se expandiu enormemente. Ao contrário do que Marx previu no manifesto de 1848, a sociedade está preocupada muito mais com o consumo do que com a produção. Além disso, Lula é mais forte do que as legendas, entre elas a do PT. Uma prova? Ei-la: a demissão do ministro José Dirceu, a cassação de seu mandato parlamentar e o próprio mensalão não o abalaram. Pelo contrário. Outro argumento: a comparação com FHC. Isso, em síntese.
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