Lula recebe campeões de 1958 e relembra "porre"
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
Em clima de descontração, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homenageou nesta quinta-feira a seleção brasileira de 1958, que conquistou a primeira Copa do Mundo para o Brasil. Na cerimônia de homenagem aos jogadores, no Palácio do Planalto, o presidente discursou por quase meia-hora para falar de uma das suas grandes paixões: futebol.
Muito à vontade entre os jogadores, Lula chegou a imitar os locutores de rádio que, na década de 50, faziam as narrações dos jogos da seleção. O presidente também revelou segredos de seu período de torcedor, ao contar um episódio em que tomou seu "último grande porre" na derrota do Brasil para a Holanda, na Copa de 1974 --quando os adversários brasileiros ganharam o apelido de "laranja mecânica".
"Foi a última vez que eu bebi exageradamente. O Brasil ia jogar com a Holanda, foi a primeira vez que vi TV em cores na minha vida, na sede do sindicato [dos Metalúrgicos, em São Paulo]. Ninguém no sindicato trabalhava para ver o jogo. Conhaque bom era Domecq, Palhinha. Estávamos lá, todos os funcionários do sindicato, entra aquela desgramada laranja mecânica, acabou com a gente. Tínhamos comprado a bebida para beber de alegria. Depois do jogo, todo mundo se achou técnico da seleção e achamos motivo para beber", revelou.
Corintiano de coração, Lula também reforçou sua paixão pelo time paulista. Bem-humorado ao comentar a queda do Corinthians para segunda divisão do Campeonato Brasileiro, Lula disse que o time "tinha que cair" para voltar para cima.
"Outro dia, em um ato em São Paulo, o Serra [governador de São Paulo] brincou comigo dizendo que o Corinthians estava na Série B. Eu disse que fomos para lá conquistar um título que o Palmeiras [time de Serra] tem e nós não temos", afirmou.
Lula também criticou a "exportação" de jogadores brasileiros para equipes da Europa. O presidente cobrou da Fifa regras mais rígidas para evitar que os "craques" brasileiros deixem o país.
"Obviamente, eu sou daqueles que defende, com amor de um jovem pobre da periferia, que ele [jogador] ganhe dinheiro e melhore de vida. Mas é preciso que haja uma combinação. Na seleção brasileira, não tem nenhum jogador que joga no Brasil", disse o presidente, sem se lembrar de atletas como Hernanes (São Paulo) e Kléber (Santos).
Lula também criticou a "falta de amor" dos atuais jogadores brasileiros pela "camisa verde-amarela", numa referência direta aos jogadores que rejeitam as convocações para a seleção.
"Quando a gente está com a camisa, estamos representando milhões de brasileiros. Temos que comer o dedo da gente para ganhar o jogo. Lamentavelmente, não estamos mais nesse momento", afirmou.
Paixão
Ao longo da cerimônia com os jogadores, Lula não escondeu sua paixão pelo futebol. O presidente apresentou uma série de números que enaltecem as conquistas da seleção brasileira, além de relatar em detalhes fatos da Copa de 1958.
"Eu sou apaixonado por futebol e pelo esporte. Um país que investe em esportes tem chance de ser uma nação muito mais respeitada e produtiva. Se tivéssemos feito isso há 30 anos, estaríamos muito melhores. O futebol está impregnado na alma dos brasileiros quase na mesma proporção que o ar que a gente respira", afirmou.
Lula fez questão de citar nominalmente os 11 jogadores da Copa de 1958 que foram ao Palácio do Planalto receber a homenagem, dos 22 que ganharam o título. Ao dirigir-se a Pelé, Lula disse que o "rei" foi seu algoz durante a juventude, quando marcava gols pelo Santos contra o Corinthians.
"É relação de amor e ódio. Foram 15 anos de sofrimento no período da minha adolescência. Você não sabe o que poderia ter causado com sua turma a um jovem esperançoso de tanto derrotar o Corinthians", afirmou.
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