quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Lula come pelas bordas

Com o DEM de um lado, contra a prorrogação da CPMF, o PT e a base aliada do outro, lutando desesperadamente a favor, o PSDB se tornou o fiel da balança. Para onde ele for, ou fosse, irá, ou iria, o resultado da votação no plenário do Senado. E o que aconteceu com o PSDB? Ora, ora... rachou!

José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), que já são governadores e aspiram chegar à Presidência algum dia, assumiram a liderança das negociações com o governo para tentar prorrogar um imposto que, entre outras coisas, lhes convém. Mas, claro, arrancando compromissos do Planalto que possam ser apresentados à opinião pública como "vitória" tucana.

Serra, sempre mais aplicado e também mais ousado, recorreu ao seu grande trunfo de ex-ministro da Saúde e jogou na mesa uma baita carta: os tucanos poderiam até apoiar a prorrogação até 2011, desde que o governo garantisse que todos os recursos iriam exclusivamente para a área de saúde. Pronto, estava estabelecida publicamente a negociação com o governo. Só faltou negociar a fundo com a própria bancada tucana no Senado, refratária ao governo e à prorrogação.

No meio da confusão, Lula deixou para lá os compromissos da manhã de terça-feira, telefonou para o governador do DF, José Roberto Arruda, e foi, fora da agenda, tomar café da manhã na residência oficial de Águas Claras. Lembremos que Arruda é do DEM, o mais aguerrido partido de oposição e justamente o que levantou a bandeira contra a CPMF.

O encontro começou com um pedido "paz e amor" de Lula, por telefone: "E aí, Arruda, tem café aí na tua casa?" Depois, evoluiu para duas "boas notícias" para o DF: Lula se comprometeu a mandar logo para o Senado o pedido de US$ 270 milhões do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para um programa viário e também avisou que a CEF tinha liberado R$ 180 milhões para um outro programa, de moradias.

Mas, se o encontro começou e evoluiu bem, não acabou tão bem assim para Lula: Arruda, muito solícito, se prontificou a intermediar conversas entre o presidente e o seu partido, DEM, mas... só depois da CPMF. Ele foi bem claro e disse a Lula que a bancada no Senado já tinha fechado questão contra a prorrogação, não seria ele que tentaria, àquela altura, remar contra a corrente. Nem teria forças para isso.

Lula, portanto, entrou cheio de paz, amor e boas notícias. Mas teria saído de mãos abanando, não fosse o fato (promissor para ele) de que Arruda ficou disposto mesmo a construir uma ponte Planalto-DEM e está encantado. Para o governador, Lula é "um craque". Como se ninguém soubesse...

Na interpretação política, a ida de Lula ao único governador do DEM mostrou "desespero" e foi quase um "jogar a toalha". Sei não. A CPMF não está (ou não estava naquele momento) perdida. E, no futuro, o céu é o limite, e Arruda pode dar uma boa mão para um presidente que, afinal, é "craque" mesmo. É assim, comendo fora de hora, na mesa da oposição e pelas bordas, que Lula vai fazendo o que bem entende.

Fonte: Folha Online

http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/elianecantanhede/ult681u354143.shtml

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