quinta-feira, 10 de outubro de 2013

 

Com Marina, Campos leva à TV o tom de 3ª via
  Josias de Souza

Até 20 dias atrás, Eduardo Campos era um “aliado” de Dilma. Agora, ele troca de calçada e grita: “Cadê aquele país que há alguns anos despertou a admiração do mundo […] e que agora voltou a ter receio da inflação?” Cadê aquele Brasil “que um dia levou um homem do povo ao poder e que agora sente que o poder não fala a língua do povo? Será que estamos no caminho errado?”, Campos indaga, antes de levar Dilma à alça de mira: “Estamos no caminho que já deu o que tinha que dar”.
O programa exibe brasileiros bem ensaiados declamando frases cunhadas com o propósito de apresentar o Brasil como um país rendido à lógica do “por outro lado”. No meu país, milhões de pessoas saíram da miséria, diz uma moça. Por outro lado, milhões não têm qualificação para trabalhar, afirma um rapaz.
Toda criança tem escola para estudar, diz outra moça. Mas 24% dos alunos não concluem o ensino fundamental, realça outro rapaz. Eduardo Campos irrompe em cena. “Chega de governar se contentando em dizer que no passado foi pior”, diz ele, afastando-se da lógica petista do “nunca antes na história desse país.”
O vídeo empilha outros paradoxos: no meu país, mais médicos estão chegando a lugares onde antes eles não tinham chegado. Por outro lado, ainda faltam remédios, equipamentos e as filas de exames e consultas não param de crescer. A democracia está cada vez mais forte e o cidadão cada vez mais consciente. No entanto, muitos ainda governam sem ouvir, sem olhar, sem levar em conta o cidadão.
Ao expor os contrastes, o marketing a serviço de Eduardo Campos valoriza o bordão do candidato: é possível fazer mais e melhor. Trocando a política imediatista do curto prazo pelo planejamento de longo prazo, diz o candidato, é possível criar soluções simples para problemas complicados. “Eu sei que dá pra fazer”, ele afirma. A peça evolui para a exposição de “realizações” de Campos no governo de Pernambuco.
Do meio para o final, a propaganda vai migrando para a grande novidade da fase pré-eleitoral. Amiga de Marina Silva, a deputada Luíza Erundina (PSB-SP) faz a transição. Num partido que negociava com o PDT dos desvios ongueiros e com o PTB do mensalão, ela fala de “ética”. Numa legenda que acaba de filiar egressos do DEM, ela fala de “coerência”. Referência moral, Erundina reconhece que todos os partidos têm problemas. Porém, munida de autocritério, diz que “o PSB tem procurado respeitar esses princípios” da ética e da coerência.
A peça atinge o seu ápice com a exibição de um apanhado de cenas do ato político que formalizou a parceria da Rede de Marina com o PSB de Campos. Quem vê a sintonia não enxerga as contradições expostas nos cinco dias que se seguiram ao foguetório: a chapa de duas cabeças, a rejeição de Marina aos acordos políticos que Campos negociava, o incômodo que afastou o agrodeputado Caiado das franjas do projeto…
No universo do marketing, a tentativa de junção da boa imagem que Campos construiu junto ao PIB com o prestígio dos quase 20 milhões de votos amealhados por Marina em 2010 é um prato cheio. No mundo real, a “nova política” que se dispõe a sepultar a “velha República” é um empreendimento por fazer.

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